quarta-feira, 11 de maio de 2011

A Revolução Chamada Êxtase - Porque Escolhemos a Infelicidade?



Primeira Parte Esse é um dos problemas humanos mais complexos. Isso tem que ser considerado bem profundamente, e isso não é teórico – diz respeito a você. É assim que todo mundo está se comportando... Sempre escolhendo o errado, sempre escolhendo o triste, o depressivo, o miserável. Deve haver razões profundas para isso, e há.


Primeira coisa: da maneira como os seres humanos são criados desempenha um papel bem definido nisso Se você estiver infeliz você ganha algo com isso, você sempre ganha. Se você estiver feliz você sempre perde.

Desde o princípio uma criança atenta começa a sentir a diferença. Sempre quando ela está infeliz todos são simpáticos com ela, ela ganha simpatia. Todo mundo tenta ser amável com ela, ela ganha amor. E mais ainda: sempre quando ela está infeliz todos são atenciosos com ela, ela ganha atenção. Atenção funciona como alimento para o ego, um estimulante muito alcoólico. Isso lhe dá energia, você sente que é alguém. Daí tanta necessidade, tanto desejo de receber atenção.

Se todos estão olhando para você, você se torna importante. Se ninguém está olhando para você, você sente como se você não estivesse lá, você não é mais, você é um não-ser. Pessoas olhando para você, pessoas dando atenção a você, isso lhe dá energia. O ego existe no relacionamento. Quanto mais atenção às pessoas lhe derem, mais ego você ganha. Se ninguém olha para você, o ego se dissolve. Se todos se esquecerem completamente de você, como é que o ego pode existir? Como você pode sentir que você é? Daí a necessidade de sociedades, associações, clubes. Por todo o mundo existem clubes – Rotary, Lions, Lojas Maçônicas... Milhões de clubes e de sociedades. Essas sociedades e clubes existem somente para dar atenção às pessoas que não podem receber atenção de outras maneiras.

É difícil tornar-se um presidente de uma nação. É difícil tornar-se um prefeito de uma corporação. É mais fácil tornar-se o presidente do Lions Clube; assim um grupo particular lhe dá atenção. Você é muito importante – nada fazendo! Clube dos Lions, Rotary Clubes... fazendo absolutamente nada, mas mesmo assim eles sentem que são de alguma maneira importantes. O presidente vai mudando; nesse ano um, no ano seguinte outro. Todos recebem atenção. É um arranjo mútuo, e todos se sentem importantes.

Desde o princípio a criança aprende política. A política é: pareça miserável, assim você adquire simpatia, assim todos são atenciosos. Pareça doente; você se torna importante. Uma criança doente se torna ditador; toda a família tem que segui-la – tudo que ela diz é a regra.

Quando ela está feliz ninguém a escuta. Quando ela está saudável ninguém se preocupa com ela. Quando ela está perfeita ninguém lhe dá atenção. Desde o princípio começamos escolhendo o miserável, o triste, o pessimista, o lado mais escuro da vida. Isso é uma coisa.

A segunda coisa relacionada a isso é: Sempre quando você está feliz, sempre quando você está alegre, sempre quando você está extasiado e contente, todos ficam com ciúmes de você. Ciúmes significa que todos são antagonistas, ninguém é amistoso; naquele momento cada um é inimigo. Desse modo você aprendeu a não ser tão extático por que todos se tornam seus inimigos – a não mostrar sua alegria, a não sorrir.

Repare nas pessoas quando elas riem. Elas riem muito calculadamente. Não é um sorriso da barriga, não está vindo lá da intimidade de seu ser. Elas primeiro olham para você, então julgam... E assim elas riem. E elas riem até um certo ponto, até o ponto que você irá tolerar, até o ponto que não será tido como inoportuno, até o ponto onde ninguém ficará com ciúmes.

Até mesmo nossos sorrisos são políticos. A risada desapareceu; alegria tornou-se absolutamente desconhecida, e ser extático é quase impossível porque não é permitido. Se você for miserável ninguém irá achar que você está maluco. Se você for extático e dançante todos irão achar que você está maluco. A dança é rejeitada, cantar não é aceito. Um homem jubiloso... Achamos que algo deu errado.

Que tipo de sociedade é essa? Se alguém é miserável está tudo bem; ele é aceito porque toda a sociedade é miserável, mais ou menos. Ele é um membro, ele nos pertence. Se alguém se torna extático achamos que ele ficou louco de raiva, insano. Ele não é um dos nossos... E sentimos ciúmes.

Por causa dos ciúmes o condenamos. Por causa dos ciúmes tentamos de todas as maneiras trazê-lo de volta ao seu velho estado. Chamamos esse velho estado de normalidade. Os psicanalistas ajudarão, os psiquiatras ajudarão a trazer esse homem de volta a sua miséria normal.

No Ocidente, toda a sociedade está se voltando contra os psicodélicos. A lei, o estado, o governo, os peritos, a suprema corte, os legisladores, sacerdotes, papas... Todos estão se voltando contra eles. Eles não são realmente contra os psicodélicos, eles são contra que as pessoas fiquem extáticas. Eles não são contra o álcool, não são contra outras coisas que são drogas, mas são contra os psicodélicos devido a que isso pode criar uma mudança química em vocês. E a velha crosta que a sociedade criou ao seu redor, o aprisionamento na miséria, pode ser rompido, pode haver uma ruptura. Vocês podem sair fora disso, mesmo por alguns momentos, e ficarem extáticos.

A sociedade não pode permitir o êxtase. Êxtase é a maior revolução. Repito isso: êxtase é a maior revolução. Se as pessoas se tornarem extáticas toda a sociedade terá que mudar, porque essa sociedade é baseada na miséria.

Se as pessoas forem alegres vocês não podem conduzi-las para a guerra – para o Vietnam, ou para o Egito, ou para Israel. Não. Alguém que seja feliz simplesmente irá rir e dizer: Isso é besteira!

Se as pessoas forem felizes vocês não podem torná-las obcecadas por dinheiro. Elas não irão desperdiçar toda a vida delas apenas acumulando dinheiro. Isso irá parecer uma maluquice para elas que uma pessoa esteja destruindo toda sua vida, apenas trocando sua vida por dinheiro morto, morrendo e acumulando dinheiro. E o dinheiro estará lá quando ela estiver morta. Isso é pura loucura! Mas essa loucura não pode ser percebida a menos que você seja extático.

Se as pessoas forem extáticas então todo padrão dessa sociedade terá que mudar. Essa sociedade existe na miséria. A miséria é um grande investimento para essa sociedade. Dessa maneira criamos filhos... Desde o princípio criamos uma tendência para a miséria. É por isso que eles sempre escolhem miséria.

Pela manhã há uma escolha para todos. E não somente pela manhã, a cada momento há uma escolha para ser miserável ou para ser feliz. Você sempre escolhe ser miserável porque há um investimento. Você sempre escolhe ser miserável porque isso se tornou um hábito, um padrão, você sempre fez isso. Você se tornou eficiente em fazer isso, tornou-se uma trilha. Na hora que sua mente precisa decidir, ela imediatamente corre para a miséria.

Miséria parece ser como a descida do monte, êxtase parece ser a subida do monte. Êxtase parece muito difícil de alcançar, mas não é assim. A coisa real é exatamente o oposto: êxtase é descer a montanha e a miséria é subir. A miséria é algo muito difícil de conseguir, mas você a conseguiu, você fez o impossível... Porque a miséria é tão antinatural. Ninguém quer ser miserável e todos são miseráveis.

A sociedade fez um belo trabalho. Educação, cultura, e os agentes culturais, pais, professores – eles fizeram um belo trabalho. Eles tornaram criadores extáticos em criaturas miseráveis. Toda criança nasce extática. Toda criança nasce um deus. E todo homem morre feito um louco.

A menos que você recupere, a menos que você reivindique sua infância, você não será capaz de tornar-se às nuvens brancas das quais estou falando. Esse é todo o seu trabalho, toda a sadhana - como recuperar a infância, como reivindicá-la. Se você puder se tornar uma criança novamente, então não haverá nenhuma miséria.

Não quero dizer que para uma criança não existem momentos de miséria – existem. Mas ainda assim não há nenhuma miséria. Tente entender isso.

Uma criança pode se tornar miserável, ela pode ficar infeliz, intensamente infeliz num momento, mas ela é tão total nessa infelicidade, ela é tão uma com essa infelicidade que não há nenhuma divisão. Não existe uma criança separada da infelicidade. A criança não está olhando para sua infelicidade separada, dividida. A criança é infelicidade – ela fica tão envolvida nisso. Quando você se torna um com a infelicidade, infelicidade não é infelicidade. Se você se torna um com ela, isso tem uma beleza em si mesmo.

Assim olhe para uma criança – digo, uma criança intacta. Se ela estiver com raiva, então toda sua energia se torna raiva; nada fica para trás, nada é retido. Ela se moveu e ficou com raiva; não há ninguém manipulando ou controlando isso. Não há nenhuma mente. A criança tornou-se raivosa, ela não está com raiva, ela tornou-se a raiva. E assim veja a beleza, o florescimento da raiva. A criança nunca parece feia; mesmo na raiva ela parece bonita. Ela apenas parece mais intensa, mais vital, mais viva... Um vulcão pronto para entrar em erupção. Uma criança tão pequena, com tanta energia, um tal ser atômico – com todo o universo para explodir!

E após essa raiva a criança ficará silenciosa. Após essa raiva a criança estará muito pacífica. Após essa raiva a criança irá relaxar. Podemos achar que é muita miséria estar nessa raiva, porém a criança não é miserável – ela desfrutou disso.

Se você se torna um com qualquer coisa você fica alegre. Se você se separa de qualquer coisa, mesmo da felicidade, você estará miserável.

Então essa é a chave. Estar separado como um ego é a base de toda miséria, ser um, ficar fluindo, com o que quer que a vida traga para você, estar nisso tão intensamente, tão totalmente, que você não é mais, você se perde, assim tudo é felicidade.

A escolha está lá, porém você ficou até mesmo alheio a escolha. Você tem estado escolhendo o errado tão continuamente, isso se tornou um hábito tão morto, que você simplesmente escolhe automaticamente. Você não tem opção.

Fique alerta. Cada vez que você estiver escolhendo ser miserável lembre-se: essa é sua escolha. Mesmo essa mentalidade ajudará, a consciência de que isso é minha escolha e de que sou responsável, e isso é o que estou fazendo a mim mesmo, isso é o meu fazer. Imediatamente você sentirá uma diferença. A qualidade da mente terá mudado. Será mais fácil para você mover-se em direção a felicidade.

Uma vez que você saiba que isso é sua escolha, então a coisa toda se tornou um jogo. Assim se você ama ser miserável, seja miserável, mas lembre-se, essa é a sua escolha e não se queixe. Não há mais ninguém que seja responsável por isso. Esse é o seu drama. Se você gosta dessa maneira, se você gosta do caminho miserável, se você quer atravessar a vida na miséria, então essa é sua escolha, seu jogo. Você está jogando-o. Jogue-o bem!

Assim não vá perguntar as pessoas como não ser miserável. Isso é absurdo. Não vá perguntar aos mestres e aos gurus como ser feliz. Os assim chamados gurus existem porque você é tolo. Você cria a miséria, e assim você vai e pergunta aos outros como destruí-la. E você prossegue criando miséria porque você não está alerta ao que está fazendo. A partir desse momento tente, tente ser feliz e jubiloso.

Osho,
My Way: The Way of the White Cloud

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